Por Johny Mange
1) O Poder das Línguas Estranhas
a)
Não houve línguas antes do Pentecostes. No
Antigo Testamento, é-nos dito que pessoas haviam recebido o Espírito Santo,
como exemplo, José (Gn 41.38), Moisés (Nm 11.17), Josué (Nm 27.18), Otniel (Jz
3.10), Gideão (Jz 6.34), Jefté (Jz 11.29), Sansão (Jz 14.6,19), Saul (1Sm
10.10), Davi (1Sm 16.13), Elias (1Rs 18.12; 2Rs 2.16), Eliseu (2Rs 2.15), etc.
Igualmente, antes do Pentecoste, o Espírito havia descido sobre alguns, tais
como João Batista (Lc 1.47), Isabel (Lc 1.41), Maria (Lc 1.35), Zacarias (Lc 1.67),
Simeão (Lc 2.52). Todavia, todos esses eram “cheios do Espírito”, mas não
“batizados no Espírito Santo”. Ser cheio do Espírito é ser controlado, guiado, conduzido, ungido pelo
Espírito do Senhor — para realização de proezas e
obras extraordinárias. Embora realizassem tão grandes feitos, imbuídos pelo
Santo Espírito, nunca tinham falado em línguas estranhas.
b) A Promessa do Pai. As
promessas divinas têm em Deus a sua origem (2Co 1.20). O Senhor Jesus chamou o
Batismo no Espírito Santo de “Promessa do Pai”, em Lucas 24.49. E por que assim
o fez? — Os profetas predisseram essa maravilhosa dádiva celestial à Igreja de
Cristo na face da Terra. Dessa promessa, falaram: Salomão (Pv 1.23), Zacarias
(Zc 12.10), Isaías (Is 28.11,12), Joel (Jl 2.28,29), João Batista (Lc 3.16) e
também Jesus Cristo — o Filho de Deus (At 1.4,5,8).
c) A evidência física e
inicial do Batismo no Espírito Santo. A evidência física e
inicial do Batismo no Espírito Santo são as línguas estranhas. É necessário ter
um sinal audível para provar que no cristão se cumpriu essa promessa. Algo,
além da alegria, da comoção e da satisfação, é mister acontecer: fazer uso das línguas,
dos seus músculos da boca! É preciso falar... No entanto, tais palavras não
brotarão de suas mentes ou do seu pensamento, mas elas “pousarão” e serão
concedidas pelo Espírito Santo de Deus (At 2.2-4). São provenientes do Alto!
(Lc 24.49).
As línguas servem para
aferir se o crente foi batizado ou não (At 11.15-17). Provadamente isso está na
Palavra de Deus — a única regra de fé e prática dos cristãos (1Co 4.6; Ap
22.18,19). Em algumas passagens, menciona-se, textualmente, essa verdade: no
Pentecostes: “começaram a falar em outras línguas” (At 2.4); na casa de
Cornélio: “os ouviam falar em línguas e magnificar a Deus” (At 10.46 comp.
11.15-17); em Éfeso: “e falavam em línguas e profetizavam” (At 19.6).
Logo, as línguas
estranhas são a evidência física e inicial do Batismo no Espírito Santo.
d) Línguas como “sinal”
e como “dom”. Deve-se ter em mente que as línguas como
“evidência física e inicial” são o “sinal” do batismo no Espírito, prometido
por Jesus (cf. Mc 16.17). Quando Cristo disse: “Em meu Nome falarão novas
línguas”, a palavra “novas” — no versículo em apreço — é “kainos”, em grego. A
obra Theological Dictionary
of the New Testament, diz que “kainos” denota “o que é novo na
natureza, diferente do habitual, impressionante, melhor do que o velho,
superior em valor ou atração”. É “um tipo novo, sem precedentes, inédito”. Ou
seja: as “novas línguas” — das quais os que cressem iriam passar a falar — não
são a mesma coisa que idiomas terrenos; mas, sim, “línguas novas”, no sentido
que são distintas e mais elevadas em natureza. São essas línguas que são o
“sinal” do Batismo no Espírito, manifestas como a evidência inicial e física.
Leva-se em conta que o termo
“línguas estranhas” é usado no meio pentecostal para significar que essas
línguas são estranhas (i.e., desconhecidas) para quem as pronuncia, mas não —
necessariamente — aos que as ouvem.
As línguas estranhas exprimidas
como “sinal” — evidência física e inicial do batismo — não devem ser confundidas,
jamais, com o “dom de variedade de línguas” (1Co 12.10). Nem todos os batizados
no Espírito Santo possuem esse dom (cf. 1Co 12.30). É um dom de expressão
plural e um milagre linguístico sobre-humano, em que o cristão fala em idiomas
sob a instrumentalização do Espírito, querendo passar uma mensagem à Igreja,
que, por sua vez, necessita de interpretação.
O dom de variedade de
línguas é usado em conexão com o dom de interpretação de línguas (1Co 12.10;
14.5,13,26-28) — a menos que as várias línguas proferidas sejam conhecidas do
público, como ocorreu no dia de Pentecostes, cujos presentes interpretaram as
línguas, que, no começo, manifestaram-se como “sinal”; porém, simultaneamente —
por serem multiformes —, revelou-se o dom de variedade de línguas (At
2.4,8-13). Nesse caso, ocorreu um grande sinal e o intuito das línguas foi
suprido: tocar os indoutos e convencer os incrédulos (1Co 14.22).
Caso para
as variedades de línguas não haja interpretação (ou conhecimento do público), o
crente deve falar somente em silêncio, isto é, “consigo e Deus” (1Co 14.4,28).
A função da variedade de línguas é a edificação da Igreja por meio de uma
mensagem. Já quem fala as línguas estranhas como “sinal” do
Batismo no Espírito Santo, “não fala aos homens, senão a Deus” (1Co 14.2), e
“fala em mistérios e ninguém entende” (1Co 14.2), e “edifica-se a si mesmo”
(1Co 14.4).
No texto de 1Coríntios
14, faz-se necessário analisar o contexto de cada versículo, pois fala dos dois
tipos de línguas: o sinal e a variedade de línguas. Mas isso é facilmente
perceptível, porque o sinal (evidência física do batismo) é edificação pessoal,
enquanto as variedades agem conjuntamente com a interpretação para uma mensagem
ao rebanho, que equivale a uma profecia.
e) Algumas finalidades do Batismo no Espírito. Esse
revestimento sobrenatural capacita o salvo a pregar, a testemunhar e a rodar o
mundo com ímpeto, força e unção (At 1.8; 4.13,20,29,33,34). O Apóstolo Paulo
após receber o Batismo no Espírito Santo (At 9.17 comp. 1Co 14.18) passou a ter
visão dos perdidos (At 16.9; 18.9-11), e, consequentemente, ganhá-los para
Cristo.
f) As línguas agindo no
crente. As línguas levam o salvo a ter comunhão com Deus (1Co
14.2), edificação, isto é, construir-se espiritualmente (1Co 14.4). Servem como
refrigério, pois é o tal prometido na Bíblia (Is 28.11,12 comp. At 3.19; 1Co
14.21,22). Por fim, uma força tremenda na oração (1Co 14.15).
Para melhor compreensão dos temas expostos, veja ainda os
estudos “As Línguas Estranhas na Bíblia” e “O Batismo no Espírito
Santo”, no site da IFAP.
2) A Manifestação do Espírito Santo — em Línguas
Estranhas — no Decorrer da História do Cristianismo
No ano 54 d.C., em
Éfeso, também ocorreu o fenômeno: os crentes ficaram cheios do poder e da
plenitude do Espírito Santo, glorificando a Deus em línguas que nunca haviam
aprendido (cf. At 19.1-7). Será que o Movimento Pentecostal terminou com esses
casos mencionados no Novo Testamento? De maneira nenhuma! Quem lê a história da
Igreja verifica que, em tempos de avivamento, o Espírito Santo manifestou-se
como nos casos mencionados em Atos
dos Apóstolos.
A promessa do
revestimento de poder é para os crentes de todas épocas: Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos
filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar (At
2.39). Depois de recebê-la, o cristão tem um impulso extraordinário para
testemunhar poderosamente a obra de salvação — o sacrifício de Jesus — em toda
a Terra! (At 1.8). Como exemplo, nos anos seguintes:
Tertuliano e Irineu (pastores que viveram
no segundo século d.C.) declararam que os membros de suas igrejas falavam em
novas línguas.
João Crisóstomo (347-407) —
bispo de Constantinopla, escreveu que o Batismo no Espírito Santo era
acompanhado por este mesmo sinal sobrenatural: falar em línguas! Três membros
de sua igreja falaram, pelo Espírito, em persa, em latim e em hindu.
Agostinho (354-430) —
bispo de Hipona, no Norte da África, afirmou que as novas línguas estavam em
evidencia nos seus dias.
Valdenses e Albigenses (1140-1280 d.C.). Isso
no Sul da Europa, em plena Idade
Tenebrosa — a Era Medieval. Eles eram dissidentes da Igreja
Romana, seguidores dos princípios bíblicos da salvação e da vida cristã em
geral. Os historiadores afirmam que entre eles havia manifestações espirituais
em línguas estranhas, segundo o Novo Testamento.
Martinho Lutero (1483-1546). Falava
em línguas e profetizava, conforme o depoimento histórico do Dr. Jack Deer,
eminente professor e historiador batista, do Seminário Teológico de Dallas.
Esta informação também é encontrada nas obras: “História da Igreja Alemã”, de
Souer (Vol. 3, p. 406), e “Pentecostes para Todos”, de Emílio Conde, p. 88.
Os Anabatistas
(1521-1550): Na Alemanha, entre os anabatistas (grupo de crentes que
pretendia o retorno ao Cristianismo primitivo, advogava reforma sociais,
separação da Igreja do Estado e contestava a validade do batismo infantil;
conseguintemente, rebatizava seus seguidores quando adultos e possuidores de
plena razão), houve manifestação de línguas estranhas e outorgamento dos dons.
Os Huguenotes (1560-1650). Eram,
na França, protestantes dissidentes quanto à forma de governo da época,
respeitante à liberdade religiosa. O historiador A. A. Boddy assim escreveu:
“Durante a perseguição aos huguenotes, a partir de 1685, havia entre eles os
que falavam em línguas, transbordantes de fervor espiritual”.
Os Quakers (1647-1650) e
os Shakers (1774-1771). Cristãos organizados em diferentes
grupos, no Nordeste da América do Norte, região da Nova Inglaterra, cujos
integrantes eram considerados de fanáticos, rígidos, santarrões, extravagantes,
os quais foram nomeados “amigos” (os Quakers) e “tremedores” (os Shakers), de
fato, recebiam poder do Espírito Santo, falavam línguas estranhas e eram
portadores de inúmeros dons espirituais.
O Movimento Pietista. Surgido
em 1666, apregoava uma vida santificada — combatendo a hipocrisia de ministros,
a embriaguez, a imoralidade, a carnalidade, as controvérsias teológicas. Na
cerimônia do partir do pão, eles entravam em êxtase — estado de máxima
intensidade emocional, em que a alma parece desligar-se do corpo, perdendo o
contato com o mundo sensível: adentrando às dimensões celestiais, daí, falavam
línguas de maneira retumbante.
Os Camisardes. Em 1686, crentes que
se refugiaram nas montanhas de Cevanes — França, devido às perseguições
religiosas, os chamados Camisardes (quer dizer, calvinistas das cavernas, pois
eram seguidores da linha teológica de João Calvino), declaravam firmemente ser
inspirados pelo Espírito de Deus; por isso, houve abundante graça entre eles, a
saber: Em 1700, falavam línguas estranhas; em 1701, o grupo tinha cerca de 200
profetas; em 1702, existiam 8 mil porta-vozes do Senhor, isto é, possuidores do
dom de profecia, que profetizaram muitas iminências de fatos desagradáveis para
a Europa. De igual modo, crianças de 3 e 4 anos já pregavam a conversão genuína
e o arrependimento em bom francês; os próprios infantes, de 4 a 14 anos, se
reuniam em vilarejos e cidades fazendo círculos, nos quais falavam línguas,
cantavam, oravam, revelavam, apregoavam as Escrituras e exortavam. Entre 1730 e
1733, já eram supreendidos em êxtase espiritual, no qual não só falavam e
interpretavam línguas, mas também entendiam, sobrenaturalmente, quaisquer
idiomas dos locais onde eram enviados a pregar.
Os Moravianos. Estes são
descendentes espirituais de John Huss (morto queimado por causa da doutrina
verdadeira), e eram conhecidos como Irmãos Morávios. Tal grupo compreendia
cerca de 300 pessoas. Em 16 de julho de 1727, o Espírito Divino irrompeu neles,
deste modo, ocorreu operação de maravilhas e todos choraram sem cessar.
Fizeram, então, um pacto de se reunirem mais vezes em Hutberg, a fito de orarem
e sentirem a mesma graça. No dia 13 de agosto, aconteceu o chamado Pentecoste
dos Moravianos. Um dos historiadores descreveu: “Vimos a mão do Senhor e as
suas maravilhas, e todos estiveram sob a nuvem de nossos pais, e fomos
batizados no Espírito Santo.” Através desse fervor espiritual, o Espírito Santo
os enviou como testemunhas de Cristo em todo o mundo! As missões moravianas
foram frutos do poder pentecostal! O historiador Dr. Werneck disse: “Esta
pequena igreja, em vinte anos, trouxe à existência mais missões evangélicas do
que qualquer outro grupo evangélico o fez em dois séculos.”
Metodistas Primitivos. Líder: John
Wesley (1703-1791), inglês. O historiador Philip Schaff, na obra “História da
Igreja”, edição de 1882, relata que esses metodistas pugnavam por uma vida
santa, e muitos tinham dons espirituais e falavam em línguas. O movimento
avivalista metodista começou em 1739, em Londres. Foi no Metodismo que teve a
maior expressão e vulto o “Movimento da Santidade”, na América do Norte, entre
determinadas igrejas tradicionais, após o século XIX, do qual, quase um século
depois, surgiu o atual Movimento Pentecostal.
Os Irvingitas. Líder:
Edward Irving (1822-1834), presbiteriano, da Igreja Escocesa de Londres. Irving
testemunhou, entre outros fatos, que, em 1831, uma irmã solteira falou em
línguas no culto de oração.
D.L. Moody (1837-1899), poderoso
evangelista e avivalista norte-americano. Acerca de sua marcante cruzada
evangelística de Londres, em 1873, escreveu Robert Boyd: “Moody pregou à tarde
no auditório da Associação Cristã de Moços, em Suderland. Em pleno culto houve
manifestação de línguas estranhas e profecia. O fogo espiritual dominava o
ambiente”.
A Rua Azusa.
Em 9 de abril de 1906, em Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos, algo alavancou
o crescimento do Evangelho na América. Na Rua Azusa, 312, o Pr. William Joseph
Seymor e mais sete irmãos de sua igreja, depois de incessantemente buscarem o
Batismo no Espírito Santo, foram batizados por Jesus e falaram “noutras
línguas”. Foi o estopim para que, nesse antigo armazém, houvesse um grande
avivamento nas reuniões: batismos no Espírito, recebimento de dons espirituais,
impulsão missionária, milagres, curas, cânticos espirituais, variedade de
línguas e interpretação de línguas, fervorosas orações, etc. Os cultos
iniciavam às 6h e acabavam à meia-noite! Isso mobilizou a impressa, os mundos
secular e religioso, os quais, surpreendidos, iam conhecer o fogo pentecostal!
Por consequência, essa chama de poder incinerou as América do Norte, Central e do
Sul.
Há inúmeros exemplos em
vários pontos do globo terrestre que, ao longo da história, o Espírito Santo
foi derramado sobre todos aqueles que perseverantemente O buscaram!
A mundialmente conhecida e respeitada
“Encyclopedia Britannica” declara: “A glossolalia [o falar noutras línguas]
esteve em evidência em todos os avivamentos da história da Igreja” (Vol. 22, p.
282, ano 1944).
Bibliografia
GILBERTO, Antonio. Verdades Pentecostais —
Como obter e manter um genuíno avivamento pentecostal nos dias de hoje. Rio de
Janeiro: CPAD, 2006, pp. 37-39.
MANGE, Johny. As Línguas Estranhas na
Bíblia. Disponível em:
<http://www.igrejadafeapostolica.com/#!as-lnguas-estranhas-na-bblia/c1ui6>.
Acesso em: 2 jun. 2015.
OLSON, Lawrence, Três Perguntas Pentecostais, em: Coleção Lições Bíblicas: Vol. 8 —
1971-1975. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, pp. 347,348, adaptado.