O LOGOS DIVINO
(João 1.1-14)
Por Johny
Mange
1. A revelação do Verbo
1. No princípio era o Verbo... Tal expressão nos remete a
Gênesis 1.1, que registra: “No princípio criou Deus os céus e a terra”.
2.
E o Verbo estava com Deus... Na época da criação é indispensável saber que
Cristo já estava lá. Logo, é-nos mostrada a eternidade de Cristo. Se Ele é
eterno, consequentemente, é imortal, é imutável, é inalterável e não está
sujeito ao tempo e às estações (1Tm 1.17; Hb 1.11,12; 13.8; Jd v.25). Também o
evangelista João salienta a comunhão entre a Pessoa do Pai e a Pessoa do
Filho. Ambos já operavam unidos na mesma glória, essência e majestade antes de
o mundo existir. Isto é um golpe fatal na teologia unicista. Unicismo é a doutrina
a qual diz que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três títulos da Pessoa de
Jesus, e não Três Pessoas distintas. Fazem parte dessa doutrina a Igreja Voz da
Verdade (que tem um conjunto que leva o mesmo nome), o Tabernáculo da Fé, a
Igreja Local de Witness Lee. Veja: “estava com Deus” – “Deus” nesta passagem
refere-se ao Pai, e o texto mostra ser uma Pessoa distinta do Verbo. Veja mais
a respeito da distinção das Pessoas nestas passagens: Mateus 3.16,17; cap
12.32; Atos 10.38; João 14.16; cap. 8.17-19;
3. E o Verbo era Deus... Declaração que tem por finalidade manifestar
que o Verbo é Deus pleno e absoluto. Veja também 1 João 5.20. Verbo corresponde
à locução grega Logos e pode ser traduzido por Palavra. É uma expressão
filosófica que quer dizer “razão”. É a expressão e o meio de comunicação da
vontade, e não há equivalente na linguagem moderna. João, ao empregar esse
termo estava mostrando, de maneira clara, a Deidade Absoluta de Cristo, uma vez
que os gregos conheciam o significado desse vocábulo na filosofia grega
pré-socrática, que seria o “princípio que rege e desenvolve o universo”, a “a
dominação do mundo por uma inteligência universal”. Já no judaísmo bíblico, é a
Palavra de Deus, que em si mesma tem um poder criativo e é o meio de Deus de se
comunicar com o homem. Desta forma, para os judeus e gentios “é o ponto de
partida de todas as coisas”, “é uma forma de se referir ao Deus Verdadeiro”.
Jesus possui a mesma natureza que o Pai possui! Toda fonte de glória está
expressa na Pessoa do Filho!
2. Gnosticismo – heresia já existente
nos dias do Apóstolo João
Qual foi a causa de o apóstolo João revelar Cristo de tal maneira? O
Gnosticismo (ou Docetismo). Movimento que chegou ao apogeu entre 135 e 160 D.C.
Eles eram grupos bastantes diversificados em suas doutrinas, pois diferiam de
lugar para lugar, e em seus períodos. Suas crenças eram um enxerto de
filosofias pagãs nas doutrinas cristológicas. Negava o cristianismo histórico.
A ideia essencial do Gnosticismo era que o homem era um espírito divino
emaranhado num mundo material corrupto, e necessitado de um “conhecimento”
(gnoses) especial a fim de escapar deste mundo material. A salvação baseava-se
não na fé em Jesus (nem nas obras), mas numa gnose – conhecimento especial da própria
condição. Segundo a doutrina deles, Jesus Cristo não teve um corpo, isto é, não
veio em carne. O Seu corpo seria uma mera aparência, que chamavam de corpo
docético, à semelhança de um fantasma. A matéria (corpo) era identificada como
maligna.
3. Logos – resposta enfática ao
Gnosticismo!
Ao usar o termo Logos, João se apoiou de uma palavra grega para revelar o
pensamento bíblico e verídico acerca do Cristo de Deus.
1. Verbo: É a Palavra encarnada. Jesus como Logos é a Palavra
Encarnada em forma humana: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós,
e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de
verdade” (Jo 1.14). Deixou toda a Sua glória (Fp 2.6-8) e desceu
transformando-se em homem: “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da
piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos
anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória” (1Tm 3.16
– Almeida Corrigida Fiel).
2. É a Palavra Criadora de Deus: “O nome pelo qual se chama é a Palavra de
Deus... (Ap 19.13); “Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus
foram criados” (Hb 11.3).
3. É o Agente da criação: “Pela palavra do SENHOR foram feitos os céus,
e todo o exército deles pelo espírito da sua boca” (Sl 33.6; Jo 1.2).
4. É o retrato vivo da santidade de
Deus: “O
qual é imagem do Deus invisível” (Cl 1.15); “a expressa imagem da Pessoa de
Deus” (Hb 1.3).
5. É a autorrevelação de Deus: “Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu:
Mostra-nos o Pai?” (Jo 14.9), “Eu e o Pai somos Um” (Jo 10.30); “Antes que
Abraão existisse: Eu Sou!” (Jo 8.58).
6. É o Mediador entre Deus e os homens: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre
Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (1Tm 2.5).
7. É o Sustentador do universo: “O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a
expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do
seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados,
assentou-se à destra da majestade nas alturas” (Hb 1.3).
8. É o anterior a todas as coisas: “E ele é antes de todas as coisas, e todas as
coisas subsistem por Ele” (Cl 1.17).
9. É o que domina todas as coisas: “Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o
dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado,
e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste
século, mas também no vindouro; e sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre
todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja” (Ef 1.20-23).
10. Logos é o Verdadeiro Deus e a vida
eterna: “E
sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos
o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus
Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20). Aleluia!
4. A vida concedida pelo Verbo
Nele estava a vida... O homem sem Deus é morto espiritualmente (Ef
2.1). Morte é “separação”. O Pai do pródigo disse: “Porque este meu filho
estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a
alegrar-se” (Lc 15.24). O Logos é a vida. Ele levanta os caídos e mortos pelo
pecado. Só Jesus traz novamente o homem à presença de Deus. O pecador está
separado de Deus (Is 59.2); por isso, fica distanciado e longe, pois está
morto; mas, ao encontrar a vida, achega-se: “Mas agora em Cristo Jesus, vós,
que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto” (Ef 2.13) e
recebe vida: “Eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância” (Jo 10.10).
5. A Encarnação do Verbo
1.
E o Verbo se fez carne... Encarnação: Doutrina segundo a qual o Verbo, a
Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, assume forma humana, na Pessoa Augusta
de Jesus Cristo. Todo o Evangelho é compreendido a partir desse ensinamento.
Dele, depende as doutrinas da salvação e redenção da humanidade. Consoante o
relato, Jesus é Deus (Jo 1.1; 10.30; Rm 9.5; Tt 2.13; Cl 2.9; Fp 2.6; Mt 1.23;
Hb 1.8).
2. As duas naturezas de Cristo. O Logos Divino renunciou a Sua glória e
majestade a fim de tornar-se homem (Jo 17.5; Fp 2.6-8), passando a viver sob às
limitações humanas de um ser humano. Com efeito, não apenas viveu neste mundo
como Deus verdadeiro, todavia, como homem de verdade.
A Escritura chama-o de “homem” (At 2.22; Jo 8.40). Pilatos, acerca dele, disse:
“Eis aqui o homem” (Jo 19.5). O nome Filho do Homem aparece quase 70 vezes nos
Evangelhos e assevera a Sua humilhação; e mais: como representante legal de
toda a humanidade. Sendo assim, era 100% homem e 100% Deus, a esperança da
humanidade, o Deus-Homem e o Homem-Deus! Aleluia! Assim, Jesus possuía duas naturezas
em uma só personalidade, as quais operavam de modo harmonioso e perfeito, em
uma união indissolúvel e eterna.
3. O Verbo como homem. O Livro de Deus está repleto de evidências de
que Jesus Cristo era completamente humano:
a) Jesus
possuía corpo (Hb 10.5) de carne e ossos humanos (Jo 19.34, Hb 2.14);
b) tinha
ancestrais humanos (Mt 1.20-25; Lc 2.1-7);
c) teve
uma concepção humana, pois na linguagem científica, Jesus começou como todos os
seres humanos, pela fertilização de um óvulo humano. Só que, no caso dele, foi
fertilizado sobrenaturalmente pelo Espírito Santo, e não por semente; quer
dizer, sêmen humano (Lc 1.31-35; Mt 1.18);
d) Jesus
teve um nascimento humano (Lc 2.4-7);
e) teve uma infância humana (Lc 2.52);
f) passou fome humana (Mt 4.2);
g) teve
sede e cansaço humanos (Jo 4.6,7);
h) teve
emoções humanas (Jo 11.33,35; Lc 13.34);
i) tinha um senso de humor humano (Jo 21.5; Lc
10.21; Jo 2.15,16);
j) tinha
linguagem e culturas humanas: Era filho de Abraão e Davi (Mt 1.1), Tinha
mãe judia (Gl 4.4; Mt 1.20-25), cultura e religião judaicas (Jo 4.5-9,21,22);
k) Era
reconhecido pela aparência e o modo de falar (Jo 4.9);
l) Suou sangue (Lc 22.44) – o que prova que tinha
glândulas sudoríparas (que produzem suor);
m) Sentiu dor humana (Mt 27.46; 26.38; Hb 5.7).
Finalmente, “Ele foi morto no corpo” (1Pd 3.18) – “Quanto mais o sangue de
Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus,
purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus
vivo? (Hb 9.14).
O Logos virou homem como você! Por isso, Ele entende cada pessoa, porquanto
tudo que passamos, Ele passou e venceu!
6. A expressa revelação de Deus – o
Verbo
1. “Vimos a Sua glória” (v.14). João manifesta que o conheceu. Isso se refere
quando Cristo se transfigurou e mostrou o Seu Senhorio a ele, juntamente com
Pedro e Tiago no monte (cf. Mt 17). Com efeito, não só o conheceu como homem,
mas também como o Senhor do Universo, a ponto de revelá-lo como o Logos Divino!
Essa foi a causa de João combater tanto o Gnosticismo enquanto viveu (cf. 1Jo
4.1-3; 2Jo v.7). Verdadeiramente sabia quem era o Cristo: Homem-Deus e
Deus-homem!
2. Cheio de graça e de verdade. A reza de Ave-Maria, do Catolicismo Romano,
expõe que Maria é “cheia de graça”. No entanto, “graça” é favor imerecido, ou
seja, o homem não merece, mas Deus por Sua infinita misericórdia lhe deu! Nesse
contexto, entra a salvação perfeita e gloriosa, revelada aos homens por meio de
Cristo Jesus, o Senhor, o Logos! “Porque a graça de Deus se há manifestado,
trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). Só Jesus é cheio de graça!
(v.14). Qualquer ser humano (como Maria) pode ser “agraciado” pelo Senhor:
“Salve, agraciada...” (Lc 1.28); “A minha graça te basta” (2Co 12.8); “Noé,
porém, achou graça aos olhos do SENHOR” (Gn 6.8); “Mas cremos que seremos
salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também” (At 15.11; Ef
3.24). Agora, toda graça, emana apenas de Cristo! (Jo 4.14).
O Logos é a plena revelação da verdade. Ele é a verdade (Jo 14.6). Veio ao
mundo para dar testemunho da verdade (Jo 18.37). O testemunho dEle é verdadeiro
(Jo 8.14; 19.35).
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